Descrição
para cegos: cena do filme em que se vê mãe, avó e irmãos de Angeliki, sentados
ao redor da mesa de jantar, voltados para o espectador com olhar de medo.
|
Por
Gislayne Borges
Como imaginar que uma
comemoração em família poderia terminar em um suicídio, inicialmente sem causa
aparente? É com essa atitude de fragilidade, que Angeliki, filha mais velha de
três irmãos, surpreende a família no dia em que comemorava seu 11° aniversário.
O que era para ser uma celebração, termina com um desfecho inesperado, que
convida o espectador, nos primeiros minutos de filme, a desvendar o que está
por trás dos mistérios que envolvem a morte da garota.
Angeliki caminha em direção à janela, sobe no parapeito e, com um sorriso enigmático, se joga do apartamento. A garota abre a porta de sua casa para que seja possível enxergar o que está aparentemente invisível, que todos parecem saber, mas fingem o contrário. O comportamento gélido dos personagens e a impassividade após o incidente, denunciam que algo está errado com aquela família, composta pelo patriarca, a mãe, as filhas Myrto e Eleni, e um casal de netos. Durante todo filme, a figura de Eleni e sua mãe se costura como mulheres submissas à autoridade do pai, sem autonomia para cuidar dos próprios filhos.
Premiado no Festival
de Veneza de 2013, Miss Violence, em
sua narrativa monótona, tem cenas longas e poucos diálogos, que são quebrados lentamente
e substituídos por pequenos gestos, reveladores de abusos explícitos. Após uma
hora de filme, podemos enxergar a face sombria que sufoca e reprime aquela
família: o avô atencioso, preocupado com a educação dos netos, se configura um
homem sombrio, capaz de manipular e abusar da família para conseguir prazer e
dinheiro.
De forma inteligente, o diretor
grego, Alexandro Avranas, expõe a realidade de famílias que convivem com a
prática de abusos psicológicos e sexuais sofridos por crianças e adolescentes,
numa problemática em que o agressor não é anônimo, mas alguém de confiança e
proximidade, que aproveita dessa relação para o encobrimento do crime.
A abordagem do filme é
predominantemente perturbadora do que violenta. O autor opta por descrever os
acontecimentos de forma a causar desconforto no espectador. Nessa perspectiva, a
impassividade da família sugere que, mesmo não sendo autores, como testemunhas a
omissão torna-os cúmplices do mesmo crime.
Dessa
forma, o filme apresenta uma reflexão sobre as condições psicológicas e
emocionais em que se encontram crianças e jovens vítimas desses abusos, levando
o espectador a um envolvimento com o sofrimento Alkimini, Myrto e Eleni,
vítimas orientadas pelo medo de revelar tais abusos. Com isso, podemos
compreender que o pulo de Angeliki foi uma atitude desesperada em busca por
libertação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar. Seu comentário será publicado em breve.