Legenda para cegos: Legenda para cegos: Quatro crianças correndo atrás de uma bola, duas meninas ao centro e dois meninos nas pontas. Ao fundo gramado e árvores |
Por Rebeca Pontes
Creio que uma das melhores coisas do
mundo seja ser criança. E talvez uma das melhores sensações seja a de fechar os
olhos e relembrar de todos os momentos bons. Lembrar das brincadeiras de pique,
das diversões nos parquinhos, das idas ao circo, da escola, dos passeios da
escola (essa é uma das melhores partes), das brincadeiras com os amigos,
irmãos, primos e vizinhos, dos desenhos na TV, dos jogos de tabuleiro e dos de
videogame, também. Lembrar dos picolés, pirulitos, chicletes, da comida da
vovó, das histórias do vovô, dos aniversários, da água gelada tomada escondida
dos pais por conta de uma gripe. Lembrar das gripes, também, da mamãe mandando
limpar o nariz, ou tomar nebulização, dos xaropes (menos dos de cereja ou
tutti-fruit que sempre eram os piores e o médico insistia em dizer que era
docinho e gostosinho, mas nunca eram, nunquinha), das quedas e arranhões, dos
braços, pernas e dedos quebrados, talvez dos pontos, ou daquela cicatriz que
ficou. Certo, talvez essas últimas lembranças não sejam tão boas, mas a maioria
foram resultados de momentos bons.
E ai você percebe que vão passando os
anos, que aquela criança já não queria mais brincar apenas. A criança começa a
querer conhecer o mundo, desvenda cada dia melhor a internet, começa a querer
namorar e como é impossível esquecer o primeiro amor, lembro com carinho do
dono do meu primeiro selinho e da minha primeira paixão mais intensa, e olha
que nem era tão grandinha assim, mas já chorava por amor. Isso, surge o amor,
aquele sentimento que “É fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se
sente, é contentamento descontente é dor que desatina sem doer” como diria
Camões, surge o amor que constrói e destrói tanta coisa e que é protagonista de
tantas aventuras, que a gente acha que é para sempre, mas quase nunca é, pelo
menos não nessa idade. Mas acreditamos no amor, fielmente, isso faz muita
falta.
Ainda se é tão verdinho e ainda se tem
tanto à amadurecer, mas já se quer ser gente grande. Chega a hora que achamos
que sabemos tudo sobre o mundo, que resolvemos enfrentar os nossos pais e viver
nossa independência precoce. Meu Deus, se era nesse momento que eu sabia de
tudo, me faz voltar àquela época, pois agora eu já não sei mais de nada. Olho
ao redor perdida e cansada e atualmente não me encontro assim por ter me
afastado demais de uma brincadeira de pique ou de uma trilha, daquelas que tem
em toda colônia de férias. E é nesse momento que a dúvida chega com mais vigor,
porque o tempo passou, afinal? Porque tive que crescer? E surge aquela súplica,
meio de olho fechado, meio de olho aberto admirando o relógio e sonhando em
voltar no tempo: Me deixa ser criança só mais um pouquinho, nem que seja só por
mais um dia?
Descobrimos que trabalhar não é tão
divertido, e nem tão melhor do que estudar. Descobrimos que os anos de escola
acabam, e não, não são infinitos, eu também achava isso. Percebemos que o
ensino médio, que parece durar uma eternidade, na verdade é um sopro e que da
alfabetização para o terceiro ano é um pulo um pouquinho mais alto. Daí em
diante, ah, o tempo corre e você nem se atreva a querer correr junto, seja
maduro! Você não é mais criança e correr é coisa de criança. Nada de brincar de
pique, ou comer tanto doce (tem que ter cuidado com a saúde), nada de xarope, comprimido
é mais prático, tente arrumar tempo pro parque, pro circo e pros passeios e
também pra trabalhar, cuidar da casa, fazer comida, mamãe e papai já não fazem
mais tudo por você, talvez, infelizmente, a vovó e o vovô já não estejam mais
aqui pra mimar o seu netinho. E agora é você pelo mundo, tentando ser adulto,
com saudade da finada criança e tentando agarrar um pouquinho da esperança e
alegria de uns anos atrás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar. Seu comentário será publicado em breve.