terça-feira, 12 de setembro de 2017

Criança dá à luz e causa apagão na imprensa

Descrição para cegos: pintura de Renoir que
mostra mãe de costas segurando um bebê
cujo rosto está visível. A imagem é refletida
em um espelho que torna possível ver o
rosto da mulher e a criança de costas.

Por Carmélio Reynaldo


Uma criança de 11 deu à luz e um surto de sem-noção atacou autoridades e imprensa paraibana. Qual a importância de dar publicidade a esse caso? Será que ninguém, dentre os envolvidos na publicidade e até exploração do episódio parou para refletir sobre os fundamentos norteadores do Estatuto da Criança e do Adolescente quando proíbe a divulgação de qualquer indício que possa identificar jovens vítimas de crimes infamantes? Gente, o objetivo é proteger a criança da repercussão presente ou futura (destaco em caixa alta, como levantando a voz: FUTURA!) da violência sofrida!
Se divulgar o episódio era totalmente descabido, ainda teve quem se prestasse a exibir a criança evitando mostrar apenas o rosto – e isso com a conivência (ou seria CUMPLICIDADE?) das pessoas responsáveis pela casa abrigo que têm a obrigação de protegê-la. Que porcaria de casa abrigo é essa que deixa a imprensa entrar e fazer imagens lá dentro?


Mas o corolário da trapalhada foi divulgar a foto do padrasto. Colocar a foto dele na mídia é o mesmo que colocar a da vítima: quem o conhece, identifica de imediato a enteada, aquela cuja identidade deveria ser preservada.
Pensem um pouco antes de fazer isso, queridos e queridas confrades. A intenção de preservar a identidade das vítimas é com relação às pessoas próximas: vizinhos, colegas de escola, pessoas que compartilham a igreja, o ponto do ônibus, frequentam a mesma balada e o supermercado, e não os moradores do outro lado da cidade. Ou seja, é preciso levar em conta que, para quem conhece, basta o tom de voz, o modo de pisar, uma sandália ou a estampa do vestido para que alguém identifique e a notícia se espalhe justamente onde não deveria se espalhar.
Entenderam? Se não, vou pedir a Flávio Tavares para desenhar e distribuir com vocês.
Também cúmplices dessa imensa trapalhada temos as autoridades que permitiram o caso chegar ao conhecimento da imprensa. Por quê? Para quê? Isso sim deveria ser investigado por um jornalismo decente. Quem vazou a informação?
Não me venham com a conversa de que havia o interesse de capturar o suspeito. Ora, segundo a autoridade policial, ele já estava identificado. Então, em vez de divulgar na imprensa que vão prendê-lo (é o mesmo que avisá-lo a tempo de fugir) prendam-no. Dentre outras vantagens, evita-se que justiceiros ensandecidos tentem linchá-lo ou mesmo ataquem pessoas que sejam fisionomicamente parecidas com ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar. Seu comentário será publicado em breve.