Por Carmélio Reynaldo
Uma criança de 11 deu
à luz e um surto de sem-noção atacou autoridades e imprensa paraibana. Qual a
importância de dar publicidade a esse caso? Será que ninguém, dentre os
envolvidos na publicidade e até exploração do episódio parou para refletir
sobre os fundamentos norteadores do Estatuto da Criança e do Adolescente quando
proíbe a divulgação de qualquer indício que possa identificar jovens vítimas de
crimes infamantes? Gente, o objetivo é proteger a criança da repercussão
presente ou futura (destaco em caixa alta, como levantando a voz: FUTURA!) da
violência sofrida!
Se divulgar o
episódio era totalmente descabido, ainda teve quem se prestasse a exibir a criança
evitando mostrar apenas o rosto – e isso com a conivência (ou seria CUMPLICIDADE?)
das pessoas responsáveis pela casa abrigo que têm a obrigação de protegê-la. Que
porcaria de casa abrigo é essa que deixa a imprensa entrar e fazer imagens lá
dentro?
Mas o corolário da trapalhada foi divulgar a foto do padrasto. Colocar a foto dele na mídia é o mesmo que colocar a da vítima: quem o conhece, identifica de imediato a enteada, aquela cuja identidade deveria ser preservada.
Pensem um pouco antes
de fazer isso, queridos e queridas confrades. A intenção de preservar a
identidade das vítimas é com relação às pessoas próximas: vizinhos, colegas de
escola, pessoas que compartilham a igreja, o ponto do ônibus, frequentam a mesma
balada e o supermercado, e não os moradores do outro lado da cidade. Ou seja, é
preciso levar em conta que, para quem conhece, basta o tom de voz, o modo de
pisar, uma sandália ou a estampa do vestido para que alguém identifique e a
notícia se espalhe justamente onde não deveria se espalhar.
Entenderam? Se não,
vou pedir a Flávio Tavares para desenhar e distribuir com vocês.
Também cúmplices dessa
imensa trapalhada temos as autoridades que permitiram o caso chegar ao
conhecimento da imprensa. Por quê? Para quê? Isso sim deveria ser investigado
por um jornalismo decente. Quem vazou a informação?
Não me venham com a
conversa de que havia o interesse de capturar o suspeito. Ora, segundo a
autoridade policial, ele já estava identificado. Então, em vez de divulgar na
imprensa que vão prendê-lo (é o mesmo que avisá-lo a tempo de fugir) prendam-no.
Dentre outras vantagens, evita-se que justiceiros ensandecidos tentem linchá-lo
ou mesmo ataquem pessoas que sejam fisionomicamente parecidas com ele.
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