Descrição
para cego: Na foto um adolescente empurra um carro feito de sucata de geladeira. A imagem não identifica o adolescente.
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Na
feira que passo do bairro que moro, enxergo os pequenos carregadores de frete.
Disputam a feira das senhoras que fazem as compras, de domingo a domingo. É um
passa a passa, um vai e vem. Ninguém olha, só tem medo ou desdém. Às vezes eles
chegam e perguntam com os olhos. Outras vezes eles falam e são logo ignorados.
Quem
é mais sociável responde com educação: - Hoje não, dá pra levar
na mão. Outras vezes garantem o serviço daquele frágil braço, que carregam o
peso dos alimentos no carro de geladeira ou de mão.
Quem
para e presta atenção vê no fundo dos olhos, não se engana não. A pobreza e a
miséria levam àquela situação. Quem queria tá ali? Sol ou frio no rojão. Só vai
quem precisa, é obrigado ou não tem pão. Se parar pra conversar vê carência de
atenção. Ou os dedos cheios de calo daquela "suposta profissão".
São
meninos que precisam aprender bem cedo a se virar. Desde cedo neste mundo
sofrem sem parar. Seja por negligência dos pais, ou as condições que lhes foi
dada. Seu lugar não é ali. Precisam brincar e aproveitar, essa fase primordial
que logo vai passar.
Um
dia desses parei e conversei com alguns. Tinha garoto de 13 anos, outros de 16, eram
tudo essa faixa etária de menino ou rapazote. Um deles com brinquedo na mão
enquanto aguardava a locação. Sorria feito criança, nem parecia a mesma
expressão de quando carregava o peso do frete.
Outro
tinha acabado de ganhar um ovo de chocolate, quando perguntei quem deu, ele
falou:- Foi minha mãe que pegou com um pessoal que “tava” dando na praça.
Questionei: -Tua mãe trabalha menino? Ele disse que não, só o padrasto que
levava para dentro de casa a refeição.
Falei
à ele que um dia queria voltar, encontrá-lo, mas não naquele lugar.
Aconselhei que não parasse de estudar, porque educação é que faz crescer e dá esperança
para transformação. Meus olhos marejaram enquanto falava com ele.
Realidade próxima, mas ao mesmo tempo distante. Lembrava-me dos capitães da areia, aqueles do Jorge Amado. Marginalizados, abandonados e às vezes sem rumo ou direção. São Pedros Bala, Gatos, Professores, Pirulitos, Sem pernas e Voltas Secas. Só que ao invés da Bahia, eles eram do meu bairro.
Realidade próxima, mas ao mesmo tempo distante. Lembrava-me dos capitães da areia, aqueles do Jorge Amado. Marginalizados, abandonados e às vezes sem rumo ou direção. São Pedros Bala, Gatos, Professores, Pirulitos, Sem pernas e Voltas Secas. Só que ao invés da Bahia, eles eram do meu bairro.
Texto incrível! Cheio de sensibilidade e poesia, com linguagem de fácil entendimento. E o arremate, é essa reflexão social, agora com certeza eu vou olhar com outros olhos esses “capitães de areia” do nosso bairro! Parabéns! Vc me enche de orgulho!
ResponderExcluirMuito obrigada, Juliana!
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