segunda-feira, 3 de abril de 2017

“Memes” como disfarce para problemas psicológicos

 
Descrição para cegos: desenho de um boneco com as mãos juntas na frente da boca e os cotovelos apoiados na mesa. Ele encara a tela de um computador. Sua testa está franzida.
Por Mariana Lira

         A palavra “meme” vem do grego e significa “imitação”. O termo “meme da internet” é usado para descrever um conceito que se dissemina rapidamente na rede, algo que se espalha através da internet, semelhante ao viral.O livro The Selfish Gene (O Gene Egoísta) por Richard Dawkins, publicado em 1976, define um “meme” como “uma unidade de evolução cultural” que se propaga de indivíduo para indivíduo. Podemos dizer que, segundo esta definição, qualquer conhecimento relacionado à cultura que seja transmitido através de um indivíduo para o outro é um “meme”.
Mesmo antes das redes sociais, já se trocavam e-mails com vídeos ou fotos que marcaram gerações. Provavelmente receberam e encaminharam vídeos como “Joseph Climber – uma história de superação”, ou o “Trote da Eliana”, mais conhecido como “o neném tá ficando roxo, tio”.
Qualquer coisa pode virar um meme. Eles surgem, na maioria das vezes, através de críticas bem-humoradas a “deslizes” que se tornam públicos. Você provavelmente se recorda que “Luíza está no Canadá” e que foi preciso certificar-se de que “Já acabou, Jéssica?”, isso porque essas frases tornaram-se bordões popularizados na internet. Segundo Eric Santos, aluno de Rede de Computadores do Instituto Federal da Paraíba, os memes surgem a partir de postagens com intenção de ser cômicas e assim são acolhidos pelo público.
Tendo em vista o sucesso desse tipo de conteúdo, surgiram centenas de páginas, perfis e grupos nas redes sociais com o intuito de produzir e compartilhar novos memes. Os jovens consomem esse tipo de conteúdo com bastante frequência, e reproduzem essas expressões, frases feitas e onomatopeias inclusive fora da internet. Ou seja, os memes tornaram-se também um vício de linguagem, semelhante às gírias.
Conforme pesquisa feita no grupo “How to deslearne english ”, pré-adolescentes e adolescentes,com predomínio do sexo masculino, são mais ativos na circulação de memes. Luana Lira, psicóloga clínica especialista em Psicologia Cognitiva Comportamental, afirma que é durante essa fase que os jovens buscam relacionar-se além do seio familiar, logo, é conveniente usar como artifício o meio virtual para este fim. Ela alerta que jovens que apresentam carências ou déficits psicológicos são mais propensos a imergirem nesse universo virtual, acarretando um vício.
Grande parte dos colaboradores da pesquisa relacionou a exploração de memes a momentos de tristeza, estresse e ansiedade, admitindo gasto de tempo na internet como refúgio para esses momentos. “Muitas vezes me refugio nos memes, pois sei que eles não irão me magoar como pessoas reais. Não tenho muitas skills (habilidades) sociais com pessoas comuns, só consigo muitas vezes conversar com pessoas que conhecem memes e têm a mesma personalidade que eu. Memes foram um jeito para eu me socializar, mesmo que com poucas pessoas”, contribuiu um participante da pesquisa.
Eric Santos é adepto das mídias sociais e dos memes. Ele garantiu que em seu círculo de amizades, compreendido por jovens, alguns dos componentes apresentam instabilidade emocional e se acobertam pelo uso frequênte de memes, tanto nas redes sociais, como no dia a dia, tentando omitir suas realidades.
A psicóloga confirma que uma característica dessas patologias psicológicas é o isolamento. O indivíduo apega-se com o mundo virtual, tendo-o como mundo ideal e como escape da realidade, na qual seria necessário enfrentar seus medos e aflições. Ela complementa que é possível perceber problemas psicológicos através da observação dos assuntos compartilhados de forma repetitiva e, na maioria das vezes exageradamente sarcásticas.
Neste ponto, podemos considerar os memes como “máscaras sociais”, compreendendo que compartilhamentos em série sobre assuntos de teor irônico, sarcástico ou exageradamente apelativo para o humor, podem estar encobrindo sentimentos reais, opostos ao que se compartilha, omitidos pelos indivíduos.
Rafael Paz, participante e criador de conteúdo de grupos e páginas de memes, questionado sobre a correlação entre memes e tristeza, disse acreditar que “os memes estão relacionados com a ‘bad’(tristeza/ansiedade) porque as pessoas quando estão tristes, seja lá o seu motivo, procuram algo para entreter-se de forma que as deixe felizes. O facebook é uma mídia tão ampla que literalmente todos acessam diariamente. É nessa parte que os memes entram em cena. Claro, não são todos os casos, porém deve-se aceitar o fato dessa possibilidade. ”
         Tal possibilidade é real e confirmada tanto pelos jovens, como por psicólogos. Quanto à positividade desse fato para a vida dos jovens, Eric acredita que imergir no universo do memes pode representar uma melhora momentânea, mas não é o suficiente. A psicóloga Luana Lira confirma que, principalmente em casos mais avançados de depressão ou ansiedade, os memes podem ser de grande ajuda para interação do indivíduo anteriormente isolado.
         Entretanto, é necessário alertar que deve existir um limite do tempo gasto com internet, para que o jovem não migre de um quadro – de depressão, ansiedade ou similares – para um vício. Em todos os casos, a indicação para essas situações é informar aos familiares ou amigos próximos que auxiliem na procura de um psicólogo, para que se comece, de fato, um tratamento eficaz.

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