Um bom filme para pensar como o universo juvenil pode ser
suprimido pela falta de perspectiva e de atenção é Kes, poético filme britânico de 1969, dirigido por Ken Loach. Nesta
obra nos é apresentada a dura vida de uma criança na classe operária, sob a
perspectiva de Billy Casper, um garoto de 15 anos que divide seu tempo entre o
desleixo da mãe, a opressão do irmão mais velho e as constantes humilhações no
colégio.
A total falta de perspectiva de vida e incentivo faz com que
Billy encontre amparo na tarefa de treinar um falcão encontrado em um ninho
numa fazenda próxima. Aprendendo com um livro roubado em uma loja, ele passa os
dias a treinar o falcão – o qual ele chama de Kes. Observando a ave alçar voo para depois voltar em segurança
para sua luva, o garoto vivencia a relação onde metaforicamente ele possa voar
e ser livre, sabendo que pode, a qualquer momento, retornar para junto de uma
mão amiga.
Kes mostra que todos
os fatores que compõem um adulto, toda a experiência, o discernimento e até
mesmo a força física encontram-se minimizados nos jovens. Esses “pequenos
adultos” aparentam viver em um mundo diferente do nosso, mal podendo
interpretar nossas complicadas relações e deveres, e tantas vezes incapazes de
expressar-se da forma adequada. Entretanto, eles são capazes – e muito – de
sentir.
Porém é, infelizmente, comum o pensamento de que as crianças
e adolescentes não possuem complexidade em seus sentimentos e formas de ver o
mundo. Talvez seja um lugar comum a máxima de que “as crianças são o futuro”,
mas em nada deixa de ser verdade. Então não faz o menor sentido negar a elas
atenção, respeito e segurança. E também compreensão, afinal elas não são nossa
propriedade ou objeto. Tal como Billy afirma em um trecho do filme, o falcão
não é seu animal de estimação; ele é um ser livre, que apenas o lega o
privilégio de ser observado.
Jhonattan Anderson
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