O interesse na infância não desaparece nas bordas da
política, mas caminha também por diversas esferas da sociedade, como a
economia. Há empresas que visam ampliar seu impacto no consumo de um
determinado produto através da persuasão na propaganda. Buscam por indivíduos
mais susceptíveis a aceitarem que o produto de uma empresa é melhor do que os
de outras. Esses personagens mais vulneráveis são as crianças, por apresentarem
o senso crítico ainda pouco desenvolvido, podendo prejudicar a absorção dos
valores sociais.
O texto “O impacto negativo do marketing infantil” foi
divulgado por Bia Cardoso para o blog Amálgama, em 26 de outubro de 2011, e
editado para o ‘Cidadania: Infância e Adolescência’. (Arthur Medeiros)
“Somos a sociedade do consumo.
[...] Consumo é estímulo para desenvolvimento econômico. Mas até que ponto é
saudável consumir tanto? [...] É bom consumir muito? Até que ponto o que é
consumido tem sido fundamental para nos definir? A publicidade é a primeira
indústria criada exclusivamente para a promoção do consumo. Agora o consumidor
deve ser motivado, seduzido a adquirir tal produto ao invés de outro.
Muitas
vezes acabamos não sabendo por que compramos um produto específico. Qual a
diferença entre desejo espontâneo e apelo de mercado? As crianças sabem
distinguir o que está por trás da publicidade? Ou o objetivo é continuar
formando mais ávidos consumidores? A publicidade possui uma avançada tecnologia
de persuasão. Onde está a ética ao focar crianças como consumidoras? Afinal,
sabemos que crianças ainda não têm o desenvolvimento cognitivo e pensamento
crítico completamente desenvolvidos, e muitas vezes não diferenciam um programa
de tevê de um comercial. Embora, de acordo com a lei, as crianças não possam
comprar um automóvel ou um celular, elas são abordadas diretamente pela
publicidade como plenas consumidoras. Basta ver a quantidade de propagandas de
celulares com crianças e as propagandas de carro em que pais pegam os filhos na
escola.
Há muito tempo a publicidade percebeu que as crianças
têm influência nas compras da família. Técnicas de venda, linguagem específica
e fantasias são usadas para conquistar a atenção e a emoção das crianças. Que
criança não quer um cereal extremamente açucarado para ficar mais próxima do
tigre protetor e forte? Quantas meninas não querem ser magras, loiras e
eternamente lindas como a boneca? O incentivo ao consumo também segrega a
criança, pois ela se sente inferior ao coleguinha que tem o brinquedo da moda.
Acredita que sua mãe é malvada porque não permite que coma
todas as guloseimas, como a mãe do comercial. Quais seriam os valores que a
publicidade transmite?
A responsabilidade pela educação
das crianças deve ser de todos: família, estado e sociedade. Portanto, a
regulação da publicidade dirigida às crianças é fundamental para formação plena
do indivíduo. [...] O que caracteriza o abuso da publicidade dirigida à criança
é, principalmente, o fato de se aproveitar da ingenuidade infantil para vender
produtos e serviços. A criança acredita no que ouve e vê. Portanto, também
acredita que o produto ou serviço vai realmente proporcionar os benefícios e
prazeres que a publicidade promete.
[...]
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o artigo 227 da Constituição
Federal estabelecem medidas concretas para a garantia dos direitos das crianças
e adolescentes. Responsabiliza nominalmente a família, a comunidade, a
sociedade e o Estado pelo bem-estar e saudável desenvolvimento da infância e da
juventude. No ECA, o artigo 4° indica a preservação da liberdade, e o artigo 17
garante a preservação da autonomia das crianças e adolescentes. O marketing
infantil ignora esses direitos fundamentais e invade o espaço infantil,
rompendo com a preservação da integridade. Por não conseguir se posicionar
criticamente frente a uma publicidade, a criança tem seu direito de liberdade e
capacidade de autodeterminação violados.”
Para ler o texto na íntegra acesse: www.amalgama.blog.br/10/2011/marketing-infantil/
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