quinta-feira, 28 de março de 2019

Sementes Podres - Resenha

Descrição para cegos: Personagens do filme- Wael (protagonista) e os seis adolescentes do projeto, sendo duas garotas e quatro garotos. Todos com características físicas diferentes.                                                                           Foto: Internet

Por Julia Oliveira


         O filme sementes podres (Mauvasies Herbes) é uma comédia dramática de 2018, com direção, roteiro e produção de Kheiron Tabib, que é também o protagonista do filme. Kheiron é um comediante, ator e diretor iraniano /francês que ficou conhecido por dirigir Nós ou nada em Paris. Com duração de 1h40, o filme traz uma grande lição para todos nós.


Nas cenas iniciais vemos o dia a dia no Irã, a destruição causada pela guerra e a morte de muitas pessoas, inclusive da família do protagonista, que precisa aprender a se virar muito cedo para sobreviver. Durante todo o filme, há sempre uma volta a esse passado do protagonista, que se apresenta junto com os problemas atuais enfrentados por ele.
        Wael (Kheiron) é um homem de aproximadamente 30 anos, que mora com Monique (Catherine Denevue), sua mãe adotiva. Eles sobrevivem de pequenos golpes na França. Em um desses golpes, Monique reencontra um velho conhecido, Victor (André Dussolier) que também cai no truque e logo descobre o furto. Para que o amigo não denuncie, ela oferece o serviço de Wael para trabalhar na ONG de adolescentes "problemáticas" do Victor.
        Este projeto lida com adolescentes que apresentavam problemas escolares, repetição de ano, faltas entre outros. Na conversa antes de Wael começar com os adolescentes, Victor fala: se elas se comportam mal, lembre que um jovem problemático é um jovem com problemas. Esta frase é em síntese de toda questão que o filme irá apresentar.
        Nos primeiros encontros de Wael com os seis adolescentes do projeto, eles não simpatizam com ele, muito menos com a ideia de estarem ali. Mas aos poucos e com algumas estratégias os garotos se rendem ao carisma de Wael e começam a mostrar suas fragilidades. O filme levanta algumas questões dignas de serem discutidas. Cada uma das crianças possuía um caso diferente e um contexto. Nadia era inteligente, porém arrogante. Ludo e Karim brigavam o tempo inteiro um com o outro, como uma guerra de facções. Jimmy era cigano e por isso não conseguia se comunicar bem. Fabrício era interesseiro e Shana insegura.
        Com o passar dos encontros eles vão aprendendo, de forma dinâmica com Wael, valores e ensinamentos para a vida. Jimmy melhora sua comunicação e é melhor alfabetizado. Nadia aprende que nem sempre estará certa. Ludo e Karin descobrem que eles só estão separados por regiões que o governo dividiu, como na Coréia do Norte e do Sul, eles poderiam ser vizinhos, e estavam apenas reproduzindo rixas antigas sem valor.
        Além dos problemas individuais, o filme aborda numa perspectiva   social os dramas enfrentados por este adolescentes. Ludo vem de família pobre, 4 irmãos e mãe solteira. Para não morrerem de fome, ele vende drogas. A sua rotina é ameaçada a todo instante pelo fornecedor das drogas que é um policial. Sabemos que está é a realidade de muitos jovens e adolescentes. Devido às precárias condições de vida, muitas vezes o caminho trilhado é o mundo do crime. O que leva cada vez mais a uma exclusão social.
Outro mal social apresentado é a violência sexual. Wael viu seu amigo na infância ser abusado no orfanato que viveu, por pessoas que deveriam estar protegendo e garantindo a segurança deles. A história de Shana estabelece um paralelo com este fato. Ela foi abusada sexualmente quando era criança, por alguém da própria família. Até então ela não tinha falado para ninguém, por medo e vergonha. Mas em uma conversa comovente com Wael, ela decide contar o fato e é incentivada a denunciar a alguém de confiança. Entre 2011 e 2017 no Brasil, segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, foram notificados 184.524 casos de violência sexual, sendo 58.037 contra crianças e 83.068 contra adolescentes.
Em uma cena de Monique e Victor, há uma crítica a falta de investimentos para projetos com crianças/adolescentes em situações complicadas e delicadas. Sempre há a visão que é "muito gasto" tentar trabalhar com estas crianças/adolescentes. Sementes podres é um excelente filme, que traz reflexões sérias e válidas.
Veja trailer do filme:

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