Descrição para cegos: na imagem, uma criança dentro do mar que olha atentamento o céu. Atrás, desfocado, pessoas se abraçam e comemoram o ano novo |
Maria
Eduarda
O
fotógrafo se chama Lucas Landau, a criança não tem nome. Na imagem, nenhum som,
nenhuma cor, apenas o retrato que segundo o captador abre margem para várias
interpretações; todas legítimas. De braços cruzados, denunciando o frio, o
menino olha para o céu e admira a beleza dos fogos que anunciam a chegada de
mais um ano. Em Copacabana, no Rio de Janeiro, pessoas se encontram, se abraçam
e vibram o nascer de um novo tempo. Tantos pedidos a fazer, tanto a agradecer e
há alguém que no meio do nada se admirava com a oportunidade de apreciar o
pouco.
A
imagem alcançou milhões. Naquele primeiro dia de 2018, a internet dava likes na
composição mais múltipla que já viram. Quem era a família dele? Será que estava
sozinho? Sentia medo? Tinha fome? Estava perdido? Queriam conhecer aquele
menino depois de ter tido suas mesas fartas, seus presentes trocados, suas
taças “brindadas”. Que bonito aquele retrato! Era como uma poesia. Tantos
versos, e nenhuma palavra a dizer.
O
pequeno sem nome, um menino de nove anos, era tudo que o fotógrafo sabia.
Talvez, de fato, estivesse sozinho, tivesse medo ou estava perdido. Mas
retratou cheio de simbolismo a figura de ser. Era simplesmente criança. Nos
comentários, as pessoas falavam sobre reflexão e se sentiam tocadas pela
pluralidade da foto. Nossas crianças vistas sob uma. Aparentemente, naquele
momento, se tornou dever de todos e qualquer um de cuidar, proteger, e
assegurar que nenhuma crueldade fosse permitida àquele ser humano.
Está
na constituição! Nos dizem que é responsabilidade da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Nos bastaria uma
foto? Nos tocaria uma vez? Seria a magia do novo ano?
Que
não nos seja explanado sentimento algum apenas por trás de uma tela. Que não nos esqueçamos da importância de
salvaguardar o nosso futuro que está nessas pequenas mãos. Que seja permitido
estudar, que seja permitido se alimentar, que seja permitido ter amor,
escolhas. Que seja permitido se encantar, se vislumbrar e ainda ter, acima de
tudo, direitos. Que não haja frio, que tenha fogos, abraços e brindes por
comemorar a nova era feita por elas.